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domingo, 27 de abril de 2014

VASCO GRAÇA MOURA MORREU

CON CHE SOAVITÁ



caminhas neste andamento levemente musical.

caminhas dentro da minha cabeça,
...
enquanto cai uma chuvinha melancólica

e eu estou numa pastelaria de campo de ourique,

e tomo estas notas, meio atordoado,

a ver-te caminhar dentro da minha cabeça

con che soavità.



é o fim de mais uma tarde triste da alma.

é isso, da alma e de mais nada. mas é um fim, um fim de tarde

enervado, junto a uma florista sem fregueses,

de unhas pintadas de vermelho vivo,

capaz de várias doçuras, vê-se

nos seus olhos e na boca

(labbra odorate e vi bacio e v’ascolto),

muito afadigada e boa que se farta,

a recolher as rosas não vendidas e as palmas e as avencas

e as gardénias e os gladíolos esfuziantes

e os raminhos emaranhados de qualquer coisa de que não sei o nome,

a dar nas pétalas uns últimos borrifos

e a preparar os taipais para fechar a loja.



é um fim de tarde, um fim de tarde

enervado e fosco à mesa de uma pastelaria, quando as lâmpadas

dão ao outono uma luz pelintra de mais baixo consumo

sob o tecto das nuvens, entre néons, faróis e buzinas estridentes,

brilhos de asfalto molhado e ziguezagues luminosos

e reflexos nos capots, reflexos de gente que passa rente aos carros,

reflexos de outros carros, reflexos de vitrinas iluminadas,

reflexos em ilusões cruzadas de movimento e contra-movimento,

em cascatas e vaivéns, em intermitências e semáforos,

e os baldes, os jarros, os vasos, os goivos e as gerveras,

golfadas de flores para a literatura europeia,

flores para los muertos,

y flores para nosotros,

os caixotes multi-usos da florista são recolhidos,

arrumados sob cortinas de plástico, e por fim um trinco

fecha-se sobre o tropel de tantas cores, atrás das costas da mulher

que aperta o impermeável, morta por se pôr a andar,

por se ir embora dali, corola minha dos desejos, enquanto

as gotinhas da chuva molham de leve a sua face morena

(con che soavità se lhe dava uma boa foda sem compromissos excessivos)

e um vizinho mais dengoso lhe diz “- até amanhã dona eurídice”

e ela dá aos quadris num meneio mais provocante.



eu, francamente, não sei por que razão

me deixo aqui ficar, enquanto toda a gente, incluindo a florista, recolhe a casa,

toda a gente, é claro, algumas criaturas no enlevo do seu amor,

outras na crispação impaciente do seu desamor,

outras sem nada que se pareça com essas formas de sentir,

mas todas muito suburbanas,

todas com problemas de pronúncia e de abertura das vogais,

e todas muito cheias de pressa e de indiferença.



não sei por que razão, ah!, caprichosas cadências da nossa humanidade!,

eu, que não tenho pressa nenhuma,

me ponho a relembrar a adolescência, esse distante, esse inquieto

tempo da timidez e da morriña em que escrevia “a chuva cai alada e triste

sobre os teus olhos líquidos e tristes” e recordo também subitamente,

mas isso foi muito mais tarde e uma coisa não tinha nada que ver com a outra

só que a memória tem destes curto-circuitos repentinos,

um grande amigo moribundo a contorcer-se de dores e de remorso

e a ver vultos que lhe assomavam à porta da agonia

a relembrarem-lhe as traições. e depois?



também um dia hei-de morrer e pode ser que tenha tempo para os remorsos,

mas por enquanto não, não estou para aí virado,

com esta chuvinha absurda a cair como um madrigal, a cair

con che soavità, e eu imagino a luz a bater em cheio

no ventre da florista, ora fulva e divina, a despenhar-se

como um punhado de ouro no regaço

de uma cortesã veneziana de cara oculta na sombra,

ora em chapadas claras, como a que inunda a susana do tintoretto,

a espraiar-se-lhe no corpo, a alastrar-lhe sobre a pele clara,

enquanto ela, eurídice, a florista, curvando-se sobre o espelho,

sopesa as mamas pequenas num leve afago das duas mãos em concha

ajustando-se à perfeição dos bicos espetados

e se põe a sorrir para mim nesses reflexos,

como um nenúfar a entreabrir-se plácido e quente

nessas águas virtuais do ser e do fazer,

a pedir-me que a escreva e a modele, que a modele e a module,

sem eu precisar de ter remorsos, mas oficina e memória

de um tempo do amor ocidental, de um

tempo que vem das cíntias e das lésbias, das beatrizes e das lauras,

das helenas e das bárbaras escravas,

mulheres que envelheceram à candeia mas ficaram

todas elas eternamente jovens sentadas à noitinha,

ao cair da noitinha macia nas palavras,

todas, até a deolinda do protopoema da serra de arga,

com seus tornozelos grossos e suas ancas parideiras,

até mesmo esta minha dinamene, esta minha eurídice florista,

morenaça a escapar-se entre morrinha e morriña

antes de eu a agarrar aqui como deve ser, pela garupa, antes de eu

aprender a ser um orfeu contrabandista da sombra mais amada.



e assim eis-me em campo de ourique, numa pastelaria mixuruca

onde entrei para tomar um café, pedi ainda uma água mineral sem gás,

sem ter sede nem outras razões especiais, sem mesmo ter de fazer horas

para ir à casa do pessoa ouvir mais não sei quem palrar decerto obliquamente,

mas, que se lixe!, não vou à casa do pessoa nem à casa de banho, fico-me

a beber água desconsolado e perco essa oportunidade única, única,

da melhor queca do ano, assim, sem mais nem para quê,

quando o cio da florista estava ali ao alcance da caneta e lá se vai a mulher,

perco-a indeciso, timorato e em-mim-mesmado no salão da pastelaria,

sem glória nem prazer, sem orgulho, nem caligrafia, nem guirlandas,

deixando-te caminhar à vontade na minha cabeça e não querendo

que te vás embora tão cedo, ó

noite escura da alma.

Chick Corea Freedom Band - Live at Jazz in Marciac 2010


quinta-feira, 24 de abril de 2014

AQUILO QUE PARECE NÃO É

 parecia um 'novelo' grande e lindo
afinal estava caída

terça-feira, 22 de abril de 2014

CRAVOS VERMELHOS

 
 
Cravos vermelhos
 
Bocas rubras de chama a palpitar,
Onde fostes buscar a cor, o tom,
Esse perfume doido a esvoaçar,
Esse perfume capitoso e bom?!
Sois volúpias em flor! Ó gargalhadas
Doidas de luz, ó almas feitas risos!
Donde vem essa cor, ó desvairadas,
Lindas flores d´esculturais sorrisos?!
...Bem sei vosso segredo...Um rouxinol
Que vos viu nascer, ó flores do mal
Disse-me agora: "Uma manhã, o sol,
O sol vermelho e quente como estriga
De fogo, o sol do céu de Portugal
Beijou a boca a uma rapariga..."
Fonte: ESPANCA, Florbela. A mensageira das violetas: antologia

quinta-feira, 3 de abril de 2014

JORGE DE SENA

Voz numa pedra


Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do menstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhas como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-se
não construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal

Jorge de Sena

terça-feira, 1 de abril de 2014

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EVOCAÇÃO DE SILVES

"EVOCAÇÃO DE SILVES

Saúda, por mim, Abg Bakr,
Os queridos lugares de Silves
E diz-me se deles a saudade
É tão grande quanto a minha.
Saúda o palácio dos Balcões ...
Da parte de quem nunca os esqueceu.
Morada de leões e de gazelas
Salas e sombras onde eu
Doce refúgio encontrava
Entre ancas opulentas
E tão estreitas cinturas!
Mulheres níveas e morenas
Atravessavam-me a alma
Como brancas espadas
E lanças escuras.
Ai quantas noites fiquei,
Lá no remanso do rio,
Nos jogos do amor
Com a da pulseira curva
Igual aos meandros da água
Enquanto o tempo passava..
E me servia de vinho:
O vinho do seu olhar
Às vezes o do seu copo
E outras vezes o da boca.
Tangia cordas de alaúde
E eis que eu estremecia
Como se estivesse ouvindo
Tendões de colos cortados.
Mas retirava o seu manto
Grácil detalhe mostrando:
Era ramo de salgueiro
Que abria o seu botão
Para ostentar a flor.

Al-Mu'tamid (1040-1095) natural de Beja. Um dos maiores poetas árabes. Foi o terceiro e último rei da dinastia Abádidas que governaram a taifa de Sevilha no século XI. Foi também governador de Silves."

terça-feira, 4 de março de 2014

Portuguese - Portugal Tourism Promotion Video


O cheiro de Deus - Recital de poesia de Adília Lopes-- não gostei


Cemitério de Staglieno- Génova

O cemitério monumental de Staglieno, é um imenso cemitério localizado numa colina na cidade de Genova, e mundialmente famoso pelas suas esculturas monumentais. Cobrindo uma área superior a 1 Km2, é um dos maiores da Europa.
Inaugurado em 1851, sendo o projecto original datado de 1835 e assinado pelo arquitecto Carlo Barabino (1768-1835), não tendo chegado a completar a sua obra por falecimento, o projecto passou então para o seu colaborador Giovanni Battista Tesasco (1798-1871). Os trabalhos iniciaram-se em 1844 na área de Staglieno, na época pouco habitada, mas ao mesmo tempo perto do centro da cidade. O projecto incluía uma cópia do Panteão de Roma….
A palavra "cemitério" (do latim tardio coemeterium, derivado do grego  κοιμητήριον [kimitírion], a partir do verbo κοιμάω [kimáo] "pôr a jazer" ou "fazer deitar") foi dada pelos primeiros cristãos aos terrenos destinados à sepultura de seus mortos. Os cemitérios ficavam geralmente longe das igrejas, fora dos muros da cidade: a prática do sepultamento nas igrejas e respectivos adros era desconhecida nos primeiros séculos da era cristã. A partir do séc. XVIII criou-se um sério problema com a falta de espaço para os enterramentos nos adros das igrejas ou mesmo nos limites da cidade; os caixões acumulavam-se, causando poluição e doenças mortais, o que tornava altamente insalubres as proximidades dos templos. Uma lei inglesa de 1855 veio regular os sepultamentos, passando estes a ser feitos fora do centro urbano. A prática da cremação, cada vez mais frequente, permitiu dar destino aos corpos de maneira mais compatível com as normas sanitárias.
Na Itália são dignos de nota, pela sua beleza, os cemitérios de Génova – cemitério de Staglieno- e o de Milão

Roda Ciranda / Quem É Do Mar Não Enjoa / Canta, Canta Min... (+lista de ...


domingo, 2 de fevereiro de 2014

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

VINHOS

confesso uma das minhas paixões

Os bagos do tamanho de grãos de chumbo vão crescendo pelo Maio fora, tornam-se maiores pelo Julho adiante e depois, ao calor de Agosto e Setembro amadurecem.

TOURIGA - bagos túmidos de sangue

D. BRANCA -  bagos unidos e redondos, verde-claro de esmeralda

DIAGALVES- tem bagos de cristal e o mês de Agosto, aquece-lhe a folhagem pontiaguda dum claro dourado que encanta.

RABISGATO- de cepa valorosa, vara larga e comprida, dá vinho de valentia e tem os bagos de verde-claro de certos licores.

MALVASIA - cor-de-rosa, trazido do levante, é toda a cor-de-rosa viva, como a romã aberta e guarda  misteriosamente o aroma e os sonhos orientais.

VERDELHO- de folha cordiforme, é amarelo esverdeado como as lagunas ensombradas.

BASTARDO - de bagos fechados e tão unidos que torna o cacho cilíndrico, cor de abrunho, de pele translúcida, doce e de aroma tão penetrante que incomoda.

MOURISCO - o bago mais perfeito de todos, de pedúnculos de púrpura, cacho escadeado e solto para os bagos ficarem livres, vertendo sangue serraceno. Perfurou-o a última moira que pisou a nossa terra.

NEVOEIRA -  a folha mais rúbia de todo o Outono, bagos unidos, cachos aos montes, cobertos de farinha, o que leva muitos a chamar à qualidade, padeira.

DANZELINHO - de folha terminada em coração.

DEDO DE DAMA - bago galante, como lindas falanges de princesa, pele fria e carne transparente.

UVA SALSA -a folha recortada de todo o Douro.

TINTA AMARELA - tão doce e linda, de cor e aroma tão vivos que as abelhas a procuram e a sorvem.

ALICANTE - de bago enorme , oblongo, cor de coral.

CHANCELER - cor de ouro desmaiado, temporão e suave.

TINTA CÃO - vinho austero, bago preto lavado de azul.

SOUSÃO- que tinge e pinta tudo da sua tinta de escrever escura, inesgotável, um nunca acabar.

PINA DE MORAIS, 1942

Dvorak - Romance for piano and violin, Op.11


Póvoa de Varzim 1962 - Capítulo 3/4 UM POSTAL DO FASCISMO


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

http://www.youtube.com/watch?v=450p7goxZqg&feature=share

LASSE SODERBERG

A ERVA DE MANÁGUA

I

Um rebanho de ruínas pastando
em metade da cidade, pareceu-me.

A erva crescia ali como o cabelo dos mortos.
Tinha a sua história a contar.

Sentei-me a escutar
como se pela primeira vez.

Aproximaram-se crianças com as mãos vazias,
privadas dos seus pais, escuros.
Pareciam a erva queimada
sob a qual cresce a nova.
Ali havia também homens e mulheres,
silenciosos, sérios como raízes.

E todos escutavam, pareceu-me,
como se pela primeira vez.



II

O lugar em que me encontrava
era o intervalo coberto de erva,

o ponto entre duas épocas,
ambas existentes,

uma sem começo real,
outra sem fim real

e do mesmo modo me encontrava eu
no meu próprio ponto de ruptura

em que estava dividido em duas partes,
as duas como estranhas uma da outra

e no entanto vivas no mesmo alento.
Mas aqui, entre o nascido e o por nascer

era um testemunho incerto,
eu mesmo erva entre as ruínas.


III

O que nada é, será.
O que nada foi, é.

Sussurros, rabiscados com pressa
na erva, regressaram à sua penumbra

Por toda a parte havia seixos
como excrementos deixados pelas ruínas,
que lentamente se iam distanciando,
pareceu-me, enquanto os homens,

as mulheres, as crianças permaneciam
sem mover-se, inflexíveis

como a grade do silêncio
armados de doçura.

A cinza que vi nas suas mãos
era o princípio do país.

Slottet la Coste ligger i ruiner, 1990
 
 
retirado do blogue do Amadeu Baptista

33-Mísia-" Dança De Mágoas "-Vídeo Clipe (+lista de reprodução)


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Maria Callas - Ave Maria


Henry Parland

Eu sei
quem rasgou as nuvens à patada
mas agora o sol resplandece.
Eu sei
quem derrubou
todas as sombras
mas agora jazem imóveis no chão.
Eu sei
quem atirou a bomba
mas atingiu o alvo.

Återsken, 1932
 
retirado do blogue do Amadeu Baptista

domingo, 19 de janeiro de 2014

Sylvie Vartan: La Plus Belle Pour Aller Danser (1964)

Sylvie Vartan: La Plus Belle Pour Aller Danser (1964)

linda adolescência a minha

http://youtu.be/0aLoezucIzk

SE FOSSE VIVO FARIA HOJE 91 ANOS

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade, in “Poesia e Prosa”

horta vizinha da estrada


sábado, 18 de janeiro de 2014

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

CULTURA

"A Cultura é o mais caro dos passatempos, o homem quer futebol, quer "nada", fica feliz com respirar e sobreviver, fica feliz sem saber, "saber incomoda, faz cócegas, insónias".


Ruben A.

Rabo de Palha E EU DESEJAMOS BOM DIA


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

LITERATURA DO BAIXO TÂMEGA

10.1.14
Secada por esses gigantescos eucaliptos literários –Teixeira de Pascoaes e Agustina –, a literatura do Baixo Tâmega começa finalmente a mostrar ao mundo, graças ao empenho do professor Amarildo Mota e Sá e de sua voluptuosa esposa e secretária, D. Patrocínio Augusta Fidelis Manhouce de Mota e Sá, outras figuras que o tempo – inclemente nos seus julgamentos – e a inexistência de um lóbi regional trataram de remeter ao esquecimento. Com a devida autorização e beneplácito do venerável professor, é com muita honra que apresentamos alguns dos vultos das letras do Baixo Tâmega, que serão incluídos num esplêndido dicionário a publicar, de acordo com as últimas notícias, lá para 2036.
 
Leocádio Casimiro (1867-1925), pseudónimo de José de Almeida Quadros, Gondiães
 
A obra poética de Leocádio Casimiro (1887 – 1925) é, pela sua dimensão bárbara e ainda não totalmente conhecida, um dos mais significativos monumentos literários do Baixo Tâmega. Até ao momento, a equipa de investigadores destacada pelo professor Amarildo para a casa de família do poeta em Gondiães, já conseguiu encontrar mais de 15734 sonetos, 1525 quadras populares e é grande o receio que um barril recentemente descoberto na adega não contenha vinho mas esteja a abarrotar de poesia decadentista. Entre a produção de Leocádio que tem vindo a ser revelada, conta-se alguma da mais bela poesia erótica jamais saída de lusa pena, como “Lírios e Mel de Basto”, “Amanhã em Soalhães” ou “Bela Tranca”. Politicamente, Leocádio estava mais próximo das ideias do Partido Regenerador, embora também não desgostasse das propostas do Partido Progressista. Considerava-se um firme republicano com uma costela monárquica, ou um monárquico que simpatizava com a causa republicana. Esta postura singular valeu-lhe muitos inimigos e explica, em certa medida, o esquecimento a que a sua obra foi votada. Não se pense, contudo, que Leocádio não gozou do reconhecimento dos seus contemporâneos. Pelo contrário. Logo em 1935, quando se completaram dez anos da morte do poeta, a paróquia organizou uma coleta para que se erguesse uma estátua em sua homenagem. Angariada a verba, encomendou-se a um escultor de Rebordelo uma imponente obra em gesso que, no dia da inauguração, foi funestamente atingida por um raio, no que foi entendido por todos como um sinal divino de desaprovação por causa de uns poemas jacobinos e sanguinários que Leocádio escrevera na juventude e que, por falta de oportunidade, nunca renegara. Atualmente, a estátua, partida em duas e milagrosamente fumegante, é uma das grandes atrações turísticas da região e pode ser visitada nos terrenos há muito cedidos pela junta de freguesia de Gondiães para a construção do futuro Museu de Literatura do Baixo Tâmega.
 
 
Virgolina Pereira Tavares – (1894-1930) Fervença
 
Hoje em dia, Florbela Espanca é mito e Virgolina Pereira Tavares é sombra. Mas se justiça houvesse, a voz melíflua de Represas teria cantado os versos agridoces desta amante desgraçada, a grande poetisa do amor entre primos de primeiro grau. De facto, a vida foi madrasta para Virgolina. Aos quinze anos, apaixonou-se pelo seu primo, Edgar Tavares, um rapaz com uma envergadura física impressionante, apesar do seu modesto metro e sessenta. Entre os dois, o entendimento fluía tão natural como as águas da Ribeira de Fervença. Estava tudo muito bem encaminhado quando, inesperadamente, Edgar decidiu alistar-se no Corpo Expedicionário Português. O desgosto de Virgolina serviu-lhe de inspiração para as suas primeiras tentativas literárias – Gases para Orfeu, Carne e Canhão e Para Onde Vais que Não te Vejo. Enlouquecida pela perspetiva de perder o amado nas trincheiras europeias, Virgulina comprou um bigode postiço e também se alistou. Foi mesmo antes de embarcar no vapor que levaria os soldados para Brest que a rapariga foi desmascarada quando o bigode lhe caiu precisamente no momento em que proferia, com voz simuladamente grossa, estas palavras: “Então vamos lá dar cabo desses boches dum raio!” Apartou-se do primo com abundantes lágrimas e guinchos pavorosos que muito perturbaram os outros soldados, alguns dos quais estavam em crer de que iam a França participar numa peça de teatro intitulada La Guerre. Os anos passaram e a resignação apoderou-se do coração de Virgolina. Incrivelmente, quando já ninguém esperava, Edgar reapareceu em Fervença. Vinha com bom aspeto e, à primeira vista, nem se notava que tinha deixado o braço esquerdo nos lamaçais da Flandres. A prima celebrou efusivamente o regresso do herói que, no entanto, chegara decidido a desposar uma rapariga do lugar de Seixoso, cuja família tinha umas cabeças de gado e vários hectares de terra boa para cultivo. Virgolina nunca se recompôs da traição e entregou-se com todas as forças do seu ser à feitura de cestos de piorna. Na literatura, a única coisa que escreveu depois disso foi uma tragédia em cinco atos, intitulada O Maneta Ingrato, que alguns críticos perspicazes acreditam estar vagamente relacionada com o primo.
 
 
Miguel de Lemos (1907 – 1974) – Mondim de Basto
 
Se a literatura de viagens beneficia de um assinalável prestígio nestas terras, muito se deve ao trabalho incansável e pioneiro de Miguel de Lemos, conhecido como o Amundsen do Basto. Este filho dileto de Mondim cedo revelou a sua inclinação para a aventura. Aos oito anos roubou o burro aos tios e foi numa longa jornada até Celorico, onde foi recebido à pedrada por uma turba que andava de vigília para apanhar um lobisomem. Mais tarde, já adolescente, organizou, juntamente com amigos, uma expedição às freguesias de Campanhó, Paradança, Pardelhas e Bilhó, onde se espantou muito por aí encontrar parentela e um sujeito conhecido como Já-te-avio, com quem trocou minguadas palavras. O objetivo da saída era o de reunir elementos sobre os hábitos gastronómicos da população autóctone e o de recolher canções tradicionais que, já na altura, estavam em risco de se perder. Nas gravações que efetuou, podem ouvir-se as versões mais remotas de clássicos como “Espiga, Ai que Linda Espiga” e “A Minha Sogra é um Boi (barrosão)”. Os relatos das suas viagens eram publicados na imprensa regional e aguardados por uma multidão de leitores ávidos de saber mais sobre as gentes de sítios tão exóticos como Vilar de Cunhas ou Refojos de Basto. A capacidade de observação de Miguel de Lemos era servida por uma prosa despojada e humilde, quase franciscana, como se pode observar nesta passagem de um dos seus artigos mais populares, em que relatava uma épica deslocação a Vilar de Perdizes, de onde regressou com uma chouriça e uma tremenda carga de mau-olhado: “Encontrei urze. Encontrei giesta amarela. Também encontrei giesta branca, mas menos adrede. São as cores das terras do Barroso. No inverno...quero lá saber.” Dedicou os seus últimos anos de vida ao projeto megalómano de, em conjunto com a Casa do Povo, realizar uma excursão a Arraiolos. Infelizmente, a revolução de Abril e uns cogumelos venenosos impediram a concretização desse sonho de um grande visionário.
 
 
 
Adérito Magalhães (1894-1965) – Ermelo
 
Esplêndido ensaísta, prosador, polemista e defensor dos direitos dos índios norte-americanos, Adérito Magalhães conviveu com as mais importantes figuras literárias da sua época, como João Gaspar Simões – a quem tratava por Molas – Adolfo Casais Monteiro – o Bardas – e José Régio – que, certa vez, lhe emprestou cinco escudos e uma cigarreira de prata. Foi um dos colaboradores da revista Presença e, nas horas vagas, dedicava-se à reparação de televisores, uma atividade que, segundo o próprio, o mantinha “ancorado à realidade costumeira”, embora o facto de a televisão ainda não ter sido inventada contribuísse para a pouca clientela. Ficou célebre a sua discussão com António Borges de Castro, em 1943, a propósito do estatuto jurídico-administrativo-religioso da Nossa Senhora da Graça e que ficou conhecida como a Disputa de Ermelo. Durante várias semanas, os dois ilustres intelectuais esgrimiram argumentos perante uma plateia vibrante de professores de Coimbra e de porqueiros e almocreves de Manhuncelos, que por ali passavam. Para arbitrar a contenda foi convidado Bernardo Augusto de Madureira e Vasconcelos, lente catedrático de Teologia e impulsionador da filosofia tomista, que não pôde aceitar o convite por ter morrido em 1926. No final, Borges de Castro foi considerado o vencedor e Adérito Magalhães foi expulso de Ermelo, não sem que antes tenha sido obrigado a dar as ceroulas ao seu adversário. Após esse insucesso, Magalhães refugiou-se na Serra da Aboboreira a fim de concluir uma ambiciosa biografia em dezasseis volumes do cônsul romano Décio Júnio Bruto, projeto que abandonou quando percebeu que só sabia o nome do biografado.
 
 
 
 
Fernandes, neo-realista (1915 – 1963) – Baião
 
O neo-realismo, a exemplo da açorda e do partido comunista, nunca se deu bem por estas zonas. É verdade que Soeiro Pereira Gomes nasceu em Gestaçô, também no concelho de Baião, mas para enveredar pelo comércio intelectual com o demónio vermelho teve de rumar a sul. A falta de condições naturais para a prática do neo-realismo não impediu alguns entusiastas deste desporto radical de o praticarem, adaptando-o, contudo, ao seu contexto social específico. O exemplo mais flagrante será o de Fernandes, professor primário e auto-didata que, depois de aprender alemão sozinho, tentou traduzir O Capital, de Marx, tendo desistido por volta da primeira página por, de acordo com as suas palavras, “não perceber nada daquela m...”. A sua simpatia pelos comunistas era conhecida de toda a população, que não se incomodava muito com isso, “cada um é para o que nasce”, diziam, e a prova da tolerância do povo é que ainda só lhe tinham incendiado a casa duas vezes. Também lhe tinham dado um terrível enxerto de porrada mas nesse caso não tinha sido por razões políticas mas por motivos religiosos, visto que alguém disse que, ao passar em frente da Igreja de São Tomé de Covelas, Fernandes não se teria persignado. Insensível a estes apelos um tanto abrutalhados para que corrigisse o seu passo, Fernandes, agente provocador, publicou um livro cujos 50 exemplares logo foram queimados numa cerimónia presidida pelo pároco de Frende e que esteve para contar com a presença do Bispo de Braga. A ação do livro – Fogo na Planície – decorre na região do Tâmega. Sem se saber como, uma família de camponeses alentejanos aparece subitamente em Amarante. Ao ver aquela família desamparada, a percorrer as ruas à procura de pão, um jovem idealista e extraordinariamente parecido com o autor ajuda as crianças lendo-lhes excertos de A Mãe, de Gorki. Os petizes logo esquecem a fome e, com os rostos iluminados por um sorriso de esperança, tentaram tomar de assalto a Câmara Municipal e assassinar um GNR à dentada. O segundo e último livro de Fernandes – Ventos de Mudança – ainda se insere na linha neo-realista, embora o paralelismo estabelecido entre um poderoso capitalista minhoto e Jesus Cristo, São Francisco de Assis e Gandhi, levante algumas dúvidas quanto à pureza ideológica da obra.
 
Porfírio Queirós Carneiro (1927 – 2005) – Arco de Baúlhe
 
O romance gótico nunca teve muitos adeptos nem praticantes em Portugal. No Baixo Tâmega, a exceção tem o nome de Queirós Carneiro. Descendente de uma família de aristocratas, o seu tetravô era o Visconde de Busteliberne, famoso por liderar um regimento que enfrentou galhardamente os franceses vinte anos depois das invasões napoleónicas, o que deixou os soldados num estado de prostração ontológica por não saberem ao certo quem tinham andado a combater. Queirós Carneiro desenvolveu desde criança um carácter melancólico e lânguido que o avô tentou corrigir com banhos de água fria e apalpões às criadas. Mas pouco havia a fazer. Na escola, quando a professora lhe pediu para fazer uma composição sobre o dia mais feliz da sua vida, o rapaz escreveu sobre um passarinho moribundo que lhe veio pousar na mão no dia do funeral da sua mãe. A influência de um tutor alemão neurasténico, Conrad von Hagendaz, só veio agravar estas tendências mórbidas, embora tivesse inculcado no jovem o gosto pela literatura e o interesse por histórias macabras. Os seus primeiros romances – A Casa da Loucura e A Dor Negra das Campas – eram joviais, mas os seguintes – Vamos Brincar!, Bom dia, Alegria! – revelam já uma mente torturada perdida num labirinto de sofrimento. Na sua História da Literatura Portuguesa, Óscar Lopes e António José Saraiva, dedicam palavras de reconhecimento ao eremita de Arco de Baúlhe. Nos seus livros, cujo cenário é geralmente um solar decrépito onde há sempre a presença fantasmagórica de uma governanta de voz sepulcral (de acordo com um estudo realizado por uma aluna da Faculdade de Letras que tive o prazer de conhecer recentemente e com quem fui beber um copo enquanto conversámos inteligentemente sobre Barthes e depilação brasileira, as palavras que mais se encontram na obra de Freixieiro são sepulcral, fúnebre, cemitério e aipo), ninguém tem direito sequer a um vislumbre de felicidade, sendo que os mais sortudos sofrem terrivelmente antes de morrer e os mais infelizes sofrem terrivelmente até depois de mortos. De início, o público reagiu muito bem às obras de Freixieiro, mas depois, até mesmo os indefectíveis, como o Soares da barbearia, o acusaram de “explorar uma fórmula literariamente pobre”. Quase no fim da vida, Freixieiro tentou escrever coisas mais leves e luminosas, talvez para se redimir de uma vida consagrada à penumbra no Solar dos Morcegos. O melhor que conseguiu foi escrever “A Angústia”, um tratado sobre a morte, o sofrimento e o absurdo da existência humana e que, lá pelo meio, traz uma alegre e tropical receita de mousse de maracujá.
 
 
Futuristas de Caçarilhe (1911-1918)
 
Ainda é pouco conhecido e estudado o grupo de futuristas de Caçarilhe que, na segunda década do século XX, levou a cabo dezenas de ações de terrorismo artístico, entre as quais a tentativa de embalsamamento de um sacristão. Pensa-se que seriam cinco ou seis rapazes, todos eles filhos de famílias abastadas e de muita religião. Para enervar os pais, bocejavam ruidosamente na igreja, organizavam concursos de lançamento de hóstias e praguejavam em Latim. Inspirados pelos escritos de F. T. Marinetti e pela proximidade física de Amadeo de Souza-Cardozo, natural do concelho de Amarante, estes futuristas sem pontes, automóveis ou guindastes celebravam as árvores, os riachos e o menir da Serra da Aboboreira, criando dessa forma uma espécie de “retrofuturismo” ou “futurismo bucólico”. Um dos rapazes escreveu um poema intitulado “Fiat Lux”, que deveria ser uma apologia da luz elétrica, mas que não foi bem recebido pelos restantes. Numa noite de fim de outono, em 1915, a ideia da guerra como única higiene do mundo levou-os a pegar em forquilhas e sacholas e atacar a aldeia vizinha de Infesta. Houve grande tumulto, vivas à República! e perda de um alqueire de couve-lombarda. Na manhã seguinte foram obrigados pelas famílias a ir de porta em porta pedindo desculpa pelos acontecimentos da noite anterior. Com a morte do pintor de Manhufe, o grupo futurista de Caçarilhe desfez-se. Tanto quanto se sabe, dois dos membros que o compunham foram ordenados padres, tendo um deles chegado a visitar Roma para receber a bênção do papa Pio XI.
link do postPor Bruno Vieira Amaral, às 16:15  comentar

[HD] Gustav Mahler - Symphony Nº 5. IV Adagietto. Sehr langsam | Claudio...


Bana - Lena (Live)


Bana os melhors coladeira


quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

ANTÓNIO RAMOS ROSA

Sem segredo algum
Rodeio-te de nomes, água, fogo, sombra,
vagueio dentro das tuas formas nebulosas.
Como um ladrão aproximo-me entre palavras e nuvens.
Não te encontrei ainda. Falo dentro do teu ouvido?
Entre pedras lentas, oiço o silêncio da água.
A obscuridade nasce. Tens tu um corpo de água
ou és o fogo azul das casas silenciosas?
Não te habito, não sou o teu lugar, talvez não sejas nada
ou és a evidência rápida, inacessível,
que sem rastro se perde no silêncio do silêncio.
O que és não és, não há segredo algum.
Selvagem e suave, entre miséria e música,
o coração por vezes nasce. As luzes acendem-se na margem.
Estou no interior da árvore, entre negros insectos.
Sinto o pulsar da terra no seu obscuro esplendor.
Volante Verde, 1986

ENDEREÇO DO MEU AGRADO

http://www.museudoazulejo.pt/pt-PT/Coleccao/Coleccoes/ContentList.aspx

A Casa do Mickey Mouse As Aventuras do Mickey no Paí­s das Maravilhas - DIGAM AS PALAVRAS MÁGICAS, VAMOS LÁ TODOS!...


Paulo Gonzo feat. Anselmo Ralph - "Ela É..." (+lista de reprodução)


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Foz do Douro tempestade Hércules


O SABER ESCASSEIA, A ESTUPIDEZ ABUNDA

quanto mais estúpidas mais desconfiadas são as pessoas


Não é só o meio  em que nascemos e em que vivemos que nos faz, mas também.
Não é só a hereditariedade que diz de nós, mas também.
Nem estas duas juntas são responsáveis,completamente.
Claro que há muita gente a ficar devidamente calado durante anos com tanta prática que têm deste método e apenas quando abrem a boca é que se percebe.
Hoje assisti a uma fatia de estupidez/ignorância/caciquismo/tudo que se passa por este país afora.
Entrei na biblioteca da Vila, quase exclusivamente frequentada por quem se serve dos computadores
Quis consultar um nº de telefone na NET e logo um frequentador daqueles serviços me informava que a maioria dos computadores se encontravam avariados, que a funcionária da biblioteca não aparece o maior número de dias e quando vem chega atrasadíssima, que já tinha reclamado da situação junto da CM mais que uma vez, mas que se encontrava tudo na mesma.
Perguntei-lhe se já tinha reclamado por escrito, disse-me que não. Propus-me ensinar-lhe a fazer a reclamação,por escrito,para ter um registo da data  da reclamação.
Então fantástica  saga aconteceu, como de costume aliás, tantos anos após  eu fazer a minha primeira reclamação. Aqui vos descrevo os passos hilariantes, se não nos custassem dinheiro.

1º) solicitamos o respectivo livro. O funcionário da recepção, único existente no momento,informou que não havia livro de reclamações, quem quisesse reclamar que fosse à CM.

2º Pedi para falar com a responsável (a tal que só vinha quando o rei faz anos). Disse-me que não estava. Eram 10,30h.

3º) Então que providenciasse no sentido de obter o livro para se efectuar a reclamação, disse. Nessa altura já dizia que o livro estava no gabinete da chefe fechado à chave.

4º) solicitei um telefonema para a CM, diz que não sabia o nº de telefone. O reclamante foi obter o nº de telefone através da NET e  telefonei para a CM, a expensas próprias, sem obter qualquer tipo de resultado já que também tem o sistema gravado, talvez para ser mais fácil os funcionários ficarem em casa e apenas virem receber o ordenado ao fim do mês.

5º) Após um telefonema do recepcionista para a dita chefe, verificando que não se desistia do objectivo primeiro e tendo sido informado que não sairíamos dali sem fazer a reclamação no livro de reclamações, aparece a dita chefe após 15m.
Finalmente foi-nos fornecido o livro que estava no gabinete dela, fechado.
Fez-se a reclamação. Quando disse ao reclamante para me fornecer a sua identificação, já que era de lei, aí o homem vacilou e gostaria de ter recuado, mas acabou por não o fazer. Tendo-lhe explicado a ele e aos 2 funcionários como se processava a reclamação.
Enquanto tudo isto decorria a chefe chamava-me de querida e muito simpática, dizia-me que tivemos muita sorte porque ela própria deveria estar a cantar as Janeiras para o Sr. Presidente da República e não haveria livro de reclamações para ninguém e ria-se.
Rindo também, informei-a que não tinha percebido adequadamente o que se tinha passado, mas que ela era a única responsável por toda a situação anómala e que o livro tinha que estar disponível com ou sem ela.
Hilariante esta situação se não fosse um espelho do nosso país do interior.
Revela o caciquismo na forma de contratação do pessoal para os organismos públicos, pagos por nós, a noção da responsabilidade dos ditos chefes e não só.
Esta CM é do PS, mas podia ser de qualquer outro partido.
É este o país que temos, mas convém que cada um de nós ajude os outros a serem cidadãos, temos obrigação disso, não podemos apenas constatar que é assim e nada mais.

Cereja do final da história:
Enquanto o reclamante tentava escrever, tentava eu  tirar umas fotografias aos presépios expostos. Eis senão quando o recepcionista que não recepcionava, vem de rompante ter comigo, dando-me uma ordem de proibição total e absoluta de tirar fotografias.
Perguntei-lhe onde estava isso escrito e que me mostrasse, mas o dito cujo apenas proibia proibindo, tipo polícia do antigamente.
Nesse momento, depois de ter ensinado tanta gente a ser cidadão, de acalmar a estagiária que se sentia responsável não sei de quê, ainda tive com esforço, confesso, de explicar com maiúsculas, ao recepcionista não recpcionante a diferença entre público e privado e que não podia dar as ordens que lhe apetecesse nem fazer o que não era estipulado pela lei,normas de serviço, o que fosse e que só o deveria fazer se se pudesse estribar nalgum documento escrito.
UMA CANSEIRA! SER CIDADÃO DÁ TRABALHO, MAS TEM QUE SER, É UM DEVER!


GNR-30 Anos Voos Domésticos2-2011 (+lista de reprodução)


L'amante di Harold Pinter - Regia Gianni Leonetti


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

POEMA DE HALFDAN RASMUSSEN

SOBRE A PERFEIÇÃO

Cada vez que vou escrever o poema perfeito,
e é algo que tento uma e outra vez,
a mão põe-se a tremer e ataca-me o reumatismo
e a esferográfica faz borrões.

E quando estou tranquilo e se aplaca o reumatismo
e a minha esferográfica escreve persistentemente,
a minha mulher entra a cada dois minutos
a perguntar se terminei esse poema.

E quando por fim logro redimi-lo
através de dores e ansiedades,
falta esse tremor, esse reumatismo e esses borrões
que tem o perfeito, se é que existe.

                Tosserier i udvalg, 1981
 
( retirado do blogue do Amadeu Baptista

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Richard Galliano - Menuet & Badinerie (J. S. Bach) on accordina


Valeriy Sokolov. Natural Born Fiddler - Prologue.


Em Inglaterra, a cadeia de supermercados Waitrose, oferece uma moeda (uma chapa) a cada cliente que faz compras acima dum determinado valor. O cliente, à saída, tem, normalmente, três caixas, cada uma em nome duma instituição social sediada no município, para receber as referidas moedas, de acordo com a opção do cliente. Periódicamente, são contadas as moedas de cada caixa e a empresa entrega em dinheiro, à respectiva instituição, o valor correspondente, donativo esse que, diminui os seus lucros mas, também, tem o devido tratamento em termos de fiscalidade.       
            Em Portugal, as campanhas de solidariedade custam ao doador uma parte para a instituição, outra parte para o Estado e mais uma boa parte para a empresa que está a “operacionalizar” (?!...) a acção. Um país de espertos... até na ajuda aos mais necessitados. Mas nós ficamos quietos e calados, ou então, estupidificamos porque queremos...  

               
.
Programa de luta contra a fome.
Nada é o que parece.
Ora veja:
Decorreu num deste fins de semana
  mais uma ação, louvável, do programa da luta contra a fome mas,....façam o vosso juízo!
A recolha em hipermercados, segundo os telejornais, foi cerca de 2.644 toneladas! Ou seja 2.644.000 Kilos.
Se cada pessoa adquiriu no hipermercado 1 produto para doar e se esse produto custou, digamos, 0.50 € (cinquenta cêntimos), repare que:
2.644.000 kg x 0,50 € dá 1.322.000,00 € (1 milhão, trezentos e vinte e dois mil euros), total pago nas caixas dos hipermercados.
Quanto ganharam???:
- o Estado: 304.000,00 € (23% iva)
- o Hipermercado: 396.600,00 € (margem de lucro de cerca de 30%).
Nunca tinha reparado, tal como eu, quem mais engorda com estas campanhas...
Devo dizer que não deixo de louvar a ação da recolha e o meu respeito pelos milhares de voluntários