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segunda-feira, 5 de maio de 2008

Quando nos confrontamos com muitos nomes iguais ao nosso




Há,logo à partida, uma rejeição primária. E a minha identidade e o meu ser único?
Então somos um e somos muitos?Este(a) um(a) podia ser aquele que ali está também.
Pilhas de Helenas Soares. Mesmo com o apelido aparecem muitas.
Fiquei, confesso, insatisfeita de todo este convívio.
Como seriam as minhas homónimas?
Delas apenas sabia a profissão, mas desconhecia se enquanto criaturas tinham evoluído ou se tinham estabilizado numa idade. E os seus afectos tinham evoluído?
Será que alguma(s) dela(s) bocejava quando se aborrecia ou aborrecia-se mas não bocejava?
E quantas voltas davam à colher ao mexer o açúcar na chávena?
Qual delas não utizava açúcar? Boa!,como diz a minha sobrinha Eva, podia-se ir por aí. Íriamos distingui-las pelo seu grau de "avareza".
De que cores gostavam? Quem ainda usava cêra virgem para arrancar pêlos do queixo? Será que faziam todas depilação eléctrica?
E qual delas disfarçava a fadiga com o humor?

De facto, é perturbador, procurarmos o nosso nome na Internet e encontrarmos várias que não somos nós. Então só nos resta a saudade do fomos. Porque antes éramos só nós.
Utilizei então um truque: desliguei o computador, embora bastasse clicar no rato e mudar de sítio.
E alguma coisa aconteceu.Dissolveram-se os outros meus eus que não eram os eus meus.
Rodeei-me de novo, dos meus pequenos segredos, de gestos que comandavam os meus códigos "domésticos".
Gostava de perfumes e parecia que muitos se cruzavam à frente do meu olfacto. Sorri então, lentamente.

domingo, 4 de maio de 2008

dia da mãe





AVÓ -MÃE DUAS VEZES

A razão e o instinto, a força e a graça, a ordem e a liberdade enconcontravam harmonia na minha avó.
Mulher tímida mas que diante da vida teve sempre a coragem de não se resignar.
Nunca gostou de precisar dos outros, sentia-se perdida, por isso trabalhou e foi útil durante toda a sua vida. O sentido de utilidade esteve sempre presente, foi como um deus menor que habitou o seu espírito. Foi sempre uma mulher que em todos os momentos se sentiu irmã do próximo e que em todas as circunstâncias reagia sem covardia e, mais importante do que tudo isso é que nem sequer tinha consciência disso.
Por onde passou, em especial, pela família que amava acima de todas as coisas, deixou pedaços de si, tal como os nossos antepassados descobridores deixaram padrões pelos locais por onde passavam.
Pensava que tinha que implorar ajuda a alguém em certos momentos mais difíceis e, como era filha duma terra em que o culto a Maria estava arreigado, sucumbiu à sua ancestralidade.
A minha avó não gostava de abrir mealheiros do passado. Sabia que lágrimas e sorrisos eram filhos dos mesmos sentimentos, mas de vez em quando lá ía buscar alguma coisa pela ranhura do dito.
Havia nela toda a raíz republicana dos seus avoengos, aliás, ela própria nascida no ano da implantação da República, que não lhe deixava tolerar poderes únicos e absolutos. Sempre pugnou pela liberdade e justiça.
Sabia ver que a quem mais amava, os seus (como chamava), eram labirintos de contradições. Por isso, os seus defeitos não estavam mascarados nem as virtudes ocultas.
A minha avó sabia saltar alçapões e conhecia os tempos em que vivia, que eram de má fé. Ela sabia que se tratava afinal dum desconhecimento do verdadeiro carácter das pessoas, quando toda a gente julgava ainda que era um mal entendido.
Achava que era uma tragédia se aos vinte anos já soubessemos o que era ter vergonha.
A vida deu-lhe água pela barba, mas ela, magrinha e a comer tanto como um passarinho, achava que nem Deus descansou, a não ser ao sétimo dia.
Não sa curvava ao pessimismo. Decepcionou-se várias vezes, mas continuava a ter esperança , a colher os dias e a saboreá-los à sua ma maneira, a amar o filho e os netos, a nora e todos os que a rodeavam. Perdoava tudo porque compreendia.
Sempre apreciou um bocado apetitoso desta vida - um bom passeio, uma vitela assada ou a paz e alegria familiares.
Viveu sempre de acordo consigo.Não perdoou ao pai não ter sido melhor marido e melhor pai. Guardava essa mágoa.
Por vezes, em especial,quando vinha rememorizar a sua infância e juventude à casa onde nasceu em Louredo/Paredes, não conseguia aderir à realidade. E os sentimentos eram superiores, relegando-a para as memórias. Parecia que não estava a ver a casa, onde ficava o seu quarto, a sala, a cozinha, etc, mas a lembrar...
Senhora duma vontade e espírito de independência, trabalhou toda a vida e a sua imaginação esteve sempre ao seu serviço no que a tal dizia respeito.
Fez camisolas, vestidos, costurou, cozinhou, crochetou.
Não passou a vida a plantar boas intenções. Abençoou todas as revoluções justas da História.
Não suportava a má língua, nem a clássica das lojas onde ía fornecer-se.
É certo que se sentia eficiente, mas porque lia os jornais todos os dias e conhecia o mundo. Gostava também de espreitar o mundo através das vidraças.
Odiava os cobardes. Considerava-os uma lepra social (nessa altura ainda não se falava da SIDA).E quando veio o 25 de Abril, a auto-proclamada revolução dos cravos, que contente que a minha avó ficou! Logo que pôde (1º de Maio), veio para a rua, de cravo na mão e misturou-se com a multidão.
Como disse já, às vezes folheava a vida e mostrava-nos algum parágrafo.
Não gostava de padres, achava-os, de certa maneira o mal da Igreja.
Tinha hábitos de liberdade e não gostava de cangas opressoras - as únicas que carregou foram alguns desgostos familiares.
Pensava na morte e como se ía acomodar lá em baixo...ela que sempre teve medo do escuro, preferia um jazigo de capela para repousar em paz.
Amava-me e dizia de mim e a mim que eu era desastrada na maneira de ser e que até algumas das boas qualidades que possuía as revelava ao invés, e assim dava lugar a que as pessoas confundissem no meu temperamento modéstia com orgulho, franqueza com agressividade, desinteresse com estratégia e por aí fora.
E quando foi votar pela 1ª vez? Renasceu. Finalmente exercia o direito público de opinião.
Perguntei-lhe:"Vó, em quem votaste?" Respondeu: "Filha, o voto é secreto, omessa".
Havia nela como que uma espécie de nervosimo da alma.
Foi sempre ávida da família. A família para si suplantava tudo. Estava acima da poesia e da música de que tanto gostava. Gostava da "Banda do Casaco" e da "Internacional".
De voz baixa, terna, sedutora, conseguia com sussurros aquilo que os outros com grandiloquos discursos não conseguiam.
Não conseguia sentar-se no sofã sem nada fazer e então, quando já estava tudo feito, fazia roupa para as bonecas da bisneta Mariana.
Considerava que não valia a pena contrariar certas pessoas, ser junto delas uma presença de constante inquietação. Claro, que também sabia que com uma interjeição se quisesse, poria fim à comédia ou tragédia representadas.
Finalmente, tentou corajosamente enfrentar a solidão, negando-a.
A minha avó era a minha Nossa Srª dos impossíveis.
Hoje é dia da MÂE, quero-lhe prestar homenagem.
Tu sabes,vóvó, lá ondes estás, que no fundo, no fundo me deixaste marcas indeléveis e muitos dos pontos bons que possuo a ti se devem. MIL VEZES OBRIGADO AVOZINHA QUERIDA.

sábado, 3 de maio de 2008

tamagoshi




Os blogues têm algumas semelhanças com os "tamagoshi". Tal como com aqueles,o "dono" tem que os "alimentar", senão não sobrevivem,morrem.
Reflectindo sobre estes"diários publicados" ou "pseudo crónicas jornalísticas", sendo uns mais diários outros, mais crónicas e alguns ainda, verdadeiras obras de arte, muito haveria a dizer, mas penso que toda a gente sabe aquilo que eu sei, logo não tem grande acutilância fazê-lo.
No entanto, há um aspecto que gostaria de partilhar, que é: Porque as pessoas, hoje em dia, se"desnudam" com tanta facilidade? Claro que é na revelação que está contida a própria ocultação, mas mesmo assim, dá que pensar.
As pessoas estão mais soltas, mais libertas. Penso que seria difícil esta explosão de blogues acontecer antes do 25 de Abril de 74 e não só por causa da censura, mas porque o sentir e agir de cada um de nós era muito mais contido. A democracia também se faz sentir na blogosfera.
E viva a democracia!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Olhares




QUANDO O FUTURO PASSOU DUMA PROMESSA PARA SER UMA AMEAÇA? Li hoje num quadro exposto numa galeria do Porto. Achei interessante a interrogação. A quantos de nós já se colocou a mesma questão? Foi tudo tão rápido. Ou talvez não.
Foi um processo ou houve realmente um ponto de viragem?
Doces ilusões!
Futuro, promessa não ligam bem com ameaça.
Que violência para as palavras!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Tributo

Era um homem imponente, grandioso mais que grande.
Mas se se quiser usar a palavra grande, era um grande homem. Claro que há tamanhos absolutos e tamanhos relativos. Estamos a considerar os primeiros.
Um homem generoso, inteligente, culto e mais do que tudo isto, sábio.

A sabedoria é um estádio que poucos atingem, só os eleitos. Não tem nada a ver com a inteligência, com os conhecimentos ou com os anos de vida, mas também tem a ver com isto tudo. Esperou todos os anos da sua vida para que o barco capitalista furasse e até se afundasse, para dar vez a outra navegação. Sonhou sempre com a libertação e, felizmente, assistiu à esperança que tal acontecesse - Abril de 1974.

Cultivava o sentido do princípio da diversidade.
Não, não era daqueles que reduzia os amigos do dia-a-dia a um labirinto de contradições,de reduzi-los a um painel de simplicidades, por isso é que o protesto da realidade não se verificava no que respeita ao plano dos factos. A personalidade de cada um era tida em conta, no entanto começava a conversar e daí a nada estava em desacordo com a maioria dos convivas.

Autodidacta,conhecia de trás para a frente a história da Europa, a história da guerra, além de se exprimir em várias línguas.
Dizia que sem luta nada se conseguia, que os trabalhadores para melhorarem a sua condição de governados tinham que contrariar o espírito de certos governantes que gostavam de lhes inculcar a convicção de que não vale a pena caminhar.

Sofria de dores horríveis. Por fim, quase não andava, mas nunca sofreu duma ciática da consciência.

Gostava que todos estudassem e incitava-os a isso. Incitava-os a ser grandes, grandes em tudo.
Sempre se agarrou à força das ideias,nunca combateu para a unanimidade. Sabia que esse conceito não trazia paz, a não ser aos fanáticos.
Amigo do seu amigo. Claro que os afectos se gastam e também neles se escorrega à hora menos pensada, sabia-o, e até deu algumas quedas com fracturas bravas.
Tratava-se de um homem que gostava de conviver com os mais novos, gostava que a juventude lhe batesse à porta, nunca essa porta se fechou. Abria-lhes o coração e dava-lhes o melhor. Deixou-se sempre refrescar pelo orvalho da manhã.
Não evitava as ilusoes para não ter desilusões. Arriscou sempre.

Nunca impõs os seus valores, o que nem sempre é fácil, como todos sabemos.
Nunca utizava o mel da bajulação ou dos interesses como estratégia. Os seus instintos eram activos, viventes e não amestrados.

Uma natureza singular, de facto. Só na intimidade, longe de olhares indiscretos, se queixava das mágoas do corpo, que lhe não davam tréguas. As dores eram constantes e o brufen já de nada valia.Nunca esquecia de todos aqueles que conhecia e gostava. Era fiel à sua memória afectiva. Nunca deixou de lembrar os seus referentes afectivos todos os natais ou em dias festivos, até mesmo os mortos eram lembrados.

Conhecia a pátria magra em que nasceu, mas também os outros, os de fora e admirava-os,em especial, aos alemães, pela força do seu trabalho, pela capacidade da reconstrução do seu país no pós guerra. Mas, claro, o povo russo, esse povo valente que fez com que Hitler perdesse a guerra, merecia da sua parte um viva muito especial.

Pensou sempre que as loucuras da vida não se deviam repetir. Devia-se ser metódico. Na juventude praticavam-se as da juventude e na idade adulta,as da idade adulta.

É preciso que haja sempre no mundo penitentes obstinados, capazes de ilusão até à hora da morte.
Nunca sofreu da cegueira dos iluminados. Abençoou todas as revoluções justas da História. Ficou órfão, como ateu, do Papa João XXIII, que tal como ele abençoou todas as revoluções.Viveu sempre de acordo consigo.


São muitas as saudades.

É longa a viagem que vai da adolescente que fui educada nesta natureza à mulher complicada que sou, carregada de problemas e angústias, mas não podia deixar, nem mais um dia de fora, este tributo.
O que exprimi àcerca do meu herói é apenas uma caricatura do que pretendia dizer, mas posso afirmar que o que sou hoje, o que penso, o que ainda quero ser, se pauta muito por tudo que aprendi com este homem que se chamava e para mim ainda chama JOSÉ MOUTINHO RODRIGUES.

Porque o 1º de Maio de 1974 foi com o 25 de Abril de 1974 talvez o dia mais feliz deste grande homem, aqui estou a emendar a memória. Sem diques de contenção grito OBRIGADO, MUITO OBRIGADO.
VIVA O 1ºDE MAIO.

Santuário de Panóias




O IPPAR já o tem registado como monumento nacional, mas vale a pena aqui sinalizar o Santuário de Panóias, construído, supôe-se, nos finais do séc.II.
Quem for ao concelho de Vila Real, ao Solar de Mateus, por exemplo, não deve perder a oportunidade de visitar este santuário pagão. É uma sensação única, telúrica, misteriosa.
Este local está para além do nosso conhecimento, enquanto urbanitas.

Porquê tantas mensagens?

As pessoas gostam de enviar e receber e-mails.
As pessoas gostam de telefonar. Telefonam muito e "mailam" muito.
Qual a razão? Sentimento de solidão? De partilha? De insegurança?
Que tipo de mails circulam na inernet? É difícil tipificar, porque são muitos os géneros, tais como: "mensagens afectuosas", "viagens", mensagens moralistas, "humorísticas, "musicais do You tube ou não", "mensagens informativas", "artísticas", de"animação", etc.,etc., etc.,não esquecendo as supersticiosas (ex: se quer realizar o seu desejo, envie esta mensagem a x pessoas).
E há ainda os blogues e muitos.
Será que nos blogues se consegue criar um espaço onde se constrói a oportunidade de não olhar de soslaio o talento do vizinho,de desferir um golpe baixo ou de recalcar inconfessáveis emulações? Talvez nem aí.Também aqui há os convidados para os blogues colectivos, criando uma espécie de clubes, logo nem todos estão no mesmo pé de igualdade, prontos a dar o melhor de si:a atenção, o desvelo e a generosidade.